Praças, Jardins e Locais Históricos
António José da Silva Cabral (1863-1953) foi um médico micaelense radicado em Vila Franca do Campo onde exerceu como médico municipal e também do hospital da Misericórdia.
À sua atividade profissional juntou uma ativa participação política, tendo sido Presidente da Câmara de Vila Franca do Campo (1896-1901), procurador à Junta Geral (1901), por Vila Franca do Campo, pelo Partido Progressista, e deputado às Cortes na legislatura de 1906-07, pelo mesmo partido.
Em sessão camarária de 22 de Maio de 1901, o então Presidente António da Silva Cabral propôs que se fizesse um jardim em São Pedro porque não só era “higiénico” como serviria de distração, evitando que “a classe operária passe os domingos nas tabernas”.
A Câmara concordou e logo na sessão seguinte, a 27 do mesmo mês, o presidente informou que se estava « procedendo à jardinagem do Largo em frente do Convento de S. Francisco”, tal como tinha sido resolvido e que, entretanto, o jardim estava a ter apoio de diversos cidadãos abastados do concelho, nomeadamente da freguesia de São Pedro, que tinham contribuído com várias ofertas para embelezamento do espaço.
Meio século depois, em 1959, o falecido Dr. António da Silva Cabral foi homenageado pelo Município Vilafranquense com uma Sessão Solene, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, e com a colocação do busto, da autoria de Numídico Bessone, que se pode ver no jardim.
António da Silva Cabral deixou uma obra notável como Presidente da Câmara, a quem se ficaram a dever melhoramentos de monta. A sua obra mais relevante, que testemunha o seu espírito inovador e progressista, foi, sem dúvida, a decisão da instalação elétrica no concelho (18 de março de 1900), que se tornou o primeiro dos Açores a ter iluminação pública a eletricidade (a Ribeira Grande só a teve em 28 de setembro de 1902 e Ponta Delgada em 12 de fevereiro de 1904).
Outros melhoramentos de sua iniciativa, que beneficiaram grandemente o concelho, foram por exemplo: a aquisição e captação de novas nascentes de água e sua canalização; instalação de canos de esgoto nalgumas ruas; a construção do Mercado do Peixe, na Avenida que por sua proposta passou a chamar-se Vasco da Silveira, em homenagem ao Presidente da Câmara que a tinha feito construir, e a alteração da entrada poente da Vila, com a construção de uma avenida a que deu o nome de Av. da Liberdade e o jardim, que recebeu o seu nome em 1902, por proposta do Presidente da Câmara que se lhe seguiu, António José Pacheco.
A praça central de uma vila era uma tradição urbanística medieval portuguesa, à volta da qual se alinhavam os edifícios mais importantes para a vida das populações, no nosso caso: a Igreja Matriz, a Casa da Câmara e o Hospital da Misericórdia.
Hoje dividido em Praça da República e Jardim Antero de Quental, na sua origem e durante largos anos o vasto espaço fronteiro à Câmara Municipal foi conhecido por Largo da Matriz.
Em 22 de Outubro de 1862, um grupo de cidadãos submeteu à apreciação da Câmara um pedido para se fazer no Largo da Matriz um passeio público com chafariz, que ostentaria o nome de D. Luiz I, comemorando o casamento real com D. Maria Pia. A Câmara assentiu e assim o Largo da Matriz foi modificado, ajardinado e passou a designar-se Praça D. Luiz.
Menos de meio século depois, com a implantação da República, o cidadão António da Costa Simas propôs, na reunião camarária de 22 de outubro em 1910, nova mudança de nome para assinalar o importante evento. Foi então deliberado atribuir ao espaço frente à Câmara o nome de Praça da República, que se mantém até hoje.
A praça tem sido alvo de várias intervenções, que lhe foram modificando o aspeto, sendo uma das mais relevantes, a implantação da estátua de Gonçalo Vaz Botelho, da autoria do escultor Canto da Maia, que pretende homenagear aquele que se crê ter sido um dos povoadores da ilha de S. Miguel, também conhecido por Gonçalo Vaz, o Grande. O seu primogénito, Nuno Gonçalves, foi o primeiro homem que nasceu nesta ilha.
A estátua, inaugurada no dia 29 de agosto de 1954, foi oferecida por José Honorato Gago da Câmara de Medeiros (3º visconde do Botelho), declarado cidadão honorário do concelho em Sessão Ordinária da Câmara de 11 de agosto de 1954.
O jardim, que começou por ser o passeio público da praça, ganhou autonomia, nome próprio e muro circundante no século passado, constituindo desde então o Jardim Antero de Quental, um belo exemplar descendente dos jardins românticos do século XIX.
O primitivo terreiro das freiras, fronteiro ao Convento de Santo André, e por isso também chamado de Largo de Santo André, foi rebatizado com o nome de Largo Bento de Góis, por deliberação camarária de 16 de dezembro de 1885, proposta pelo vereador Manoel Jacinto Lopes, Visconde da Palmeira, para “ assim esta Câmara dar público testemunho do apreço e admiração que tributa a Bento de Goes, e esta Vila como sua terra natal manifestar também quanto se honra com tão egrégio nome.”
Passadas quase duas décadas, em 1901, com a chegada da iluminação pública elétrica a Vila Franca do Campo, o largo foi beneficiado com ajardinamento e iluminação, transformando-se em passeio muito apreciado nesta Vila.
Algum tempo depois, em 11 de Abril de 1907, o Largo Bento de Góis foi enriquecido com a estátua da ilustre personalidade que lhe dá o nome, custeada por subscrição da Câmara.
Bento de Góis, jesuíta (1562-1607), nasceu em Vila Franca do Campo e morreu em Suchow, junto à Grande Muralha da China.
Em demanda do mítico reino de Cataio, foi o primeiro europeu a fazer a travessia terrestre da Índia à China, partindo de Goa, atravessando as montanhas do Pamir e o deserto de Gobi, até à Grande Muralha da China. Com esta monumental viagem foi finalmente esclarecida a dúvida sobre a existência do reino de Cataio que, afinal, não era outro senão a China.
A estátua atualmente presente no largo é em bronze, da autoria de Numídico Bessone e foi inaugurada em 1962, assinalando o 400º aniversário do nascimento de Bento de Góis. Antes desta, no mesmo local, figurou outra estátua do mesmo homenageado, em mármore, inaugurada em 1907, da autoria de Simões de Almeida (sobrinho), que assinalava o 300º aniversário da morte do jesuíta. Essa estátua pode ser vista atualmente no Museu de Vila Franca do Campo – Solar Viscondes do Botelho.
O largo de Santa Catarina, espaço circundante à ermida do mesmo nome, constitui um local aprazível de contemplação da paisagem marítima que caracteriza Vila Franca do Campo. Não admira, portanto, que em 1932 tenha sido o local escolhido para a instalação da estátua em mármore do Infante D. Henrique, da autoria de Simões de Almeida (sobrinho), comemorativa dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Arquipélago dos Açores, mais precisamente a Santa Maria e a São Miguel, em 1432.
O Infante D. Henrique (1394–1460) foi o grande impulsionador das navegações que, no século XV, levaram os Portugueses à descoberta do caminho marítimo para a Índia, do Brasil e, no século seguinte, até ao Japão.
Em 16 de Agosto de 2006, foi inaugurado o “Parque da Cidade”, em Vila Franca do Campo, situado junto à Rotunda dos Frades, na Freguesia de São Pedro.
Apresentado como uma estrutura que fazia parte integrante do conjunto arquitetónico do Pavilhão Multiusos, então ainda em construção, o equipamento foi pensado para ser utilizado por todas as faixas etárias, incluindo um parque infantil e uma pista/circuito de manutenção com cerca de 300 metros.
Em 2012 mudou o nome para Parque da Vila.
Em 1582, a Vila foi palco de uma das maiores batalhas navais travadas no mar dos Açores, opondo as forças fiéis ao príncipe português D. António Prior do Crato à armada de Filipe II de Espanha.
Portugal perdeu a batalha e a independência, tendo ficado sob o domínio da coroa espanhola durante 60 anos.
O desaparecimento do jovem rei D. Sebastião, na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África, em 1580, deu origem a uma crise de sucessão no reino de Portugal que teve o seu desfecho nos Açores, na Batalha Naval de Vila Franca, entre as forças portuguesas que defendiam as pretensões ao trono do português D. António, Prior do Crato, e as forças espanholas do pretendente espanhol, o rei D. Filipe II de Espanha, que viria a ser Filipe I de Portugal.
No dia 26 de junho de 1582, duas imponentes armadas enfrentam-se a escassas meia dúzia de léguas (cerca de 30 km), sendo cinquenta navios por D. António contra trinta e um por D. Filipe.
Segundo relatos da época, a batalha durou cinco horas, durante as quais os apoiantes de D. António, portugueses e franceses, registaram uma grande derrota, com enorme perda de barcos e vidas, incluindo o comandante geral da armada Filipe Strozi. Na notícia que o Marquês de Santa Cruz mandou de imediato ao Rei D. Filipe, contou que, de 6.800 homens que os prisioneiros franceses diziam constituir a armada, registaram-se 1200 inimigos mortos durante a batalha, sem contar com os feridos e com os quase 400 prisioneiros que foram, depois, executados em terra, dos quais 70 eram nobres franceses.
Na mesma notícia, relatou o Marquês de Santa Cruz que as suas forças registaram um total de 224 mortos e 543 feridos.
Quanto a D. António, quando viu a batalha perdida, escapou com o resto das forças que lhe eram fiéis para a ilha Terceira, onde foi novamente derrotado por D.Álvaro de Bazán, Marquês de Santa Cruz, no ano seguinte, acabando por se exilar em França até à sua morte.
As execuções dos prisioneiros, depois da batalha de Vila Franca do Campo, tiveram lugar no largo da igreja Matriz, onde foi montado um pelourinho, imortalizado numa gravura alemã, publicada em 1589 e incluída no volume III do Arquivo dos Açores.
Pouco escapou da Vila original. Segundo descrição da época, dois picos, o Rabaçal e o Louriçal, deslizaram em direção ao mar, cobrindo casas e ruas com toneladas de lama e pedra. A torrente assassina apanhou os habitantes desprevenidos no sono e matou quase toda a população. Os relatos falam de quase cinco mil mortos mas há quem pense que nesse número está incluído o rol de baixas da peste, que logo a seguir se declarou em S. Miguel.
Para se compreender melhor qual a área que sofreu maior destruição, tracemos uma linha reta imaginária que divida a Vila em duas, com início no monte da Sra. da Paz, em direção ao mar. Tudo o que ficava a nascente da Ermida de Santa Catarina ficou soterrado e os moradores quase todos mortos. O lado poente escapou à avalanche.
Não foi só a Vila que foi afetada pelo terramoto. Em toda a ilha se verificaram danos e vítimas. Segundo relato contemporâneo do cronista Gaspar Frutuoso, caiu a maior parte das igrejas da ilha e muitas casas “onde morreram muitas pessoas de que não soube o número”.
A reconstrução da Vila
Não há relatos pormenorizados da maneira como os trabalhos se desenrolaram, mas há várias notícias que permitem traçar em linhas gerais o panorama do que se passou. Assim, sabemos que decidida a reconstrução da Vila em novo local, a poente da anterior, os novos Juízes e Vereadores da Vila encontraram bastante resistência da parte dos proprietários dos terrenos, que não os queriam ceder para esse fim, pelo que se dirigiram ao Rei solicitando-lhe que usasse o seu poder para expropriar os terrenos que fossem necessários.
O monarca, D. João III, responde por carta de 1 de fevereiro de 1524, dirigida ao Capitão da ilha, ao Corregedor e aos Oficiais, dando autorização para se proceder às expropriações necessárias.
Era necessário que a vida voltasse à normalidade e para isso era preciso que as instituições funcionassem. A Casa do Concelho e da Audiência instalou-se nos primeiros tempos em “edifício menos próprio” mas, mais tarde, os Vereadores conseguiram a graça régia de lançarem imposto de 200 mil réis, para construírem instalações condignas, para o que podiam também contar, durante oito anos, com o imposto sobre o vinho e a carne que se produziam no concelho. Mesmo assim ainda passaram umas décadas até a Vila voltar a ter uma Casa da Câmara. Só por Alvará de 12 de dezembro de 1560, o Rei D. Sebastião (sendo Regente a sua avó, D. Catarina de Áustria) concede a Vila Franca a imposição do vinho e carne para a construção da Casa da Câmara, com torre para o relógio. Passados 10 anos ainda não estava concluída.