Festas Religiosas 2017-03-27T11:04:35+00:00

Festas Religiosas

A Festa do Santíssimo Sacramento e de São Lázaro decorre no terceiro fim de semana de agosto na freguesia de Água d’Alto. Os tríduos preparatórios para as festas iniciam-se com várias celebrações: Celebração e Festa do Perdão com missa; Exposição do Santíssimo Sacramento; Vigília de oração pelos emigrantes com celebração da missa e Festa da Palavra.

No domingo há Eucaristia e Procissão e o arraial à noite é animado por bandas filarmónicas e locais, havendo ainda bazar e espaço de comes e bebes.

Padroeiro de Vila Franca do Campo e da ilha de São Miguel, esta festa é quase tão antiga como os tempos do povoamento da ilha. A procissão, única no seu género, é conhecida como a Procissão do Trabalho e mantém as suas origens medievais, em que as diferentes profissões tomavam parte na procissão acompanhando o seu santo patrono. Realiza-se anualmente a 8 de maio ou no domingo mais próximo. Por vezes torna-se necessário ajustar a data da festa devido à proximidade com a Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres que é uma festa móvel.  

Todos os anos a imagem do Arcanjo Miguel sai à rua empenhando a sua espada e escudo com a insígnia “Quis Ut Deus?” – Quem Como Deus? Nas noites de sábado a segunda-feira, os Santos ficam em exibição na casa de “mordomos”, que ornamentam os seus quartos ou salas com motivos relativos à profissão, para, no domingo, fazerem parte da procissão.  

Participam os pescadores com São Pedro Gonçalves, os lavradores com Santo Antão, os oleiros com Santo António, os barbeiros com Santa Catarina, profissões liberais com São nuno de Santa Maria, os sapateiros com São Crispim, os carpinteiros com São José, os pedreiros com São João, os arrieiros com a Senhora do Egito, os militares com a Senhora da Paz, os escuteiros com o Menino Jesus e São Miguel Arcanjo, padroeiro da ilha. De todas as imagens mencionadas, apenas três estão durante o ano todo em templos religiosos (São Miguel, Menino Jesus e Senhora da Paz), estando as restantes em casas particulares que as recolhem durante todo o ano.

A Festa de São Pedro Gonçalves em Vila Franca do Campo, popularmente conhecida como Festa do “Irró”, é uma festividade dedicada aos pescadores do concelho.

São Pedro Gonçalves (também conhecido como Corpo Santo) é o patrono dos marinheiros e pescadores Portugueses e Espanhóis, tendo o seu culto chegado a todo o lado onde existiam caravelas. Nos Açores a sua devoção veio com os descobridores e com os primeiros povoadores. Esta festa, celebrada a 14 de abril no calendário Cristão, possui caraterísticas singulares, sendo atualmente celebrada no primeiro domingo depois da Páscoa.  

A origem da palavra “Irró” é desconhecida, mas os pescadores acreditam que é uma corruptela do grito “Urra”, grito que os pescadores entoavam quando varavam os barcos à mão, no tempo em que no Cais do Tagarete não havia guincho elétrico e era apenas com a força dos braços que puxavam os barcos para terra.

Por altura da festa, os pescadores expõem os seus barcos ao longo da Avenida Vasco da Silveira e decoram-na com tapetes de flores com motivos náuticos.

Reza a lenda que a imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra deu à costa na Praia do Corpo Santo, dentro de uma caixa de madeira com a inscrição “Para a Misericórdia de Vila Franca”, indicação que fez com que a referida caixa acabasse por ser entregue na Misericórdia, descobrindo-se, então, no seu interior, uma imagem de Jesus Cristo sentado numa pedra. O estranho nesta história é que ninguém terá assumido a responsabilidade de tal encomenda, assumindo-se, por isso, o sucedido como um milagre. Uma história que foi passando de boca em boca, chegando até ao território continental. Ao saber do sucedido, Vila Franca de Xira terá chegado a reclamar a posse do achado. Não terá, no entanto, conseguido o seu intento porque, ao que parece, na caixa havia a indicação clara de que a vila era mesmo Vila Franca do Campo. Ficou, então, a veneranda imagem numa capela própria da Igreja da Misericórdia e, durante algum tempo, o seu culto ter-se-á limitado a uma missa cantada e a um sermão no referido espaço. Uma promessa da mãe do juiz Teotónio Claudino da Silveira terá servido, depois, para impulsionar uma festa de dimensão mais considerável em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra. Uma devoção que foi ganhando espaço na vila, no concelho e, sobretudo, no coração dos vila-franquenses. Atualmente, as festas mobilizam milhares de devotos e realizam-se no último domingo de agosto, pelo menos desde 1903, data da autorização do Papa Leão XIII para que esta manifestação de fé fosse devidamente reconhecida.

Esta festa é organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo.

A Festa de São Pedro é uma festa cristã em honra ao martírio em Roma do apóstolo São Pedro e acontece a 29 de junho. A celebração tem origem muito antiga e em Vila Franca do Campo decorre na freguesia com o mesmo nome, com missa, procissão, migalha, arrematação e arraial.

“Em 1720 a peste assolava a cidade de Marselha, fazendo inúmeras vítimas. Os padres, que auxiliavam o bispo no conforto dos empestados, caiam fulminados pelo terrível flagelo. Então o corajoso prelado concebeu a ideia de consagrar o seu rebanho já tão dizimado ao Sagrado Coração de Jesus, marcando um dia para uma procissão solene em que tomaram parte os magistrados e o povo. Coisa singular! Desde esse dia, dizem-no as crónicas, a peste diminui sensivelmente, melhorando todos os que se achavam doentes e não morrendo mais ninguém. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus progrediu tanto que em 1758 foi solenemente autorizada pela Santa Sé. Por toda a parte se tem fundado confrarias para Lhe prestar um culto de amor e reparação, de maneira que dificilmente se encontrará uma paróquia em que se não adore o Sagrado Coração do Salvador, fonte e símbolo de caridade inesgotável, que remiu os homens” (Padre Manuel Ernesto Ferreira – Jornal A Crença – 6 de junho de 1920)

Em Vila Franca do Campo, a Festa do Sagrado Coração de Jesus decorre na freguesia de Ribeira das Tainhas no mês de julho com tradicional Procissão , Eucaristia e arraial.

O culto à Senhora da Paz é uma devoção antiga, que vem da Espanha do século XI, e que nasceu em circunstâncias bélicas, num dos muitos episódios da reconquista cristã, atribuindo à intervenção miraculosa da Virgem uma importante e desesperada vitória sobre os mouros, quando as hostes cristãs já desfaleciam. A partir dessa altura, Nossa Senhora da Paz foi para muitos a invocação inspiradora em situações de perigo frente à Mafoma, tal como muitas vezes aconteceu aos fundadores de Vila Franca do Campo, certamente agradecidos a Nossa Senhora pelo manto abrigado que lhes fornecia do alto do monte a que deu o nome, donde os ilhéus vigiavam as investidas piratas e suspiravam de alívio, pelo refúgio e invisibilidade que lhes proporcionava o arvoredo e o difícil acesso ao cimo do monte. Passaram os anos, os perigos mudaram, mas o espírito mitigador da intercessão de Nossa Senhora da Paz permaneceu vivo nos espíritos cristãos. (Gaspar, Maria (2004). Nossa Senhora da Paz Santuário Mariano do Atlântico. Câmara Municipal de Vila Franca do Campo: Editorial Ilha Nova.)

Lenda da Senhora da Paz

“Conta-se que, certo dia, uns pastores da serra haviam encontrado uma Imagem da Virgem numa pequena e tosca lapinha e, surpreendidos com tão rico achado, correram a anunciá-lo ao povo e ao clero que, pressurosos, se dirigiram ao sítio indicado e, em acto processional, trouxeram para a Vila a Miraculosa Imagem, mas que esta, ao outro dia logo de madrugada, apareceu no seu pequeno e tosco nicho, mostrando assim ao povo e ao clero a sua superior vontade de viver naquele retiro, donde mirava a Vila e dominava, numa extensão aberta, todos os povoados vizinhos. E então o povo reconhecendo, desta forma, a vontade da Virgem, pensou em erigir, naquele monte e no sítio que julgou mais adequado, um pequenino tempo, para ali recolher a Santa Imagem; mas oh! Tristeza infinda, como se poderia levantar naquele ermo, num terreno áspero e ressequido, uma construção qualquer, por pequena que fosse mesmo, se não havia uma gota de água? Como tão longe do povoado, no cimo de uma montanha, se só no seu sopé, para o lado mais áspero e distante, é que havia água?

E, sem que houvesse ainda achado solução a tão grave problema, eis que numa das vertentes do píncaro, numa pequena chã, rebenta uma nascente de água fresca, alvíssima, milagre da Virgem, solucionando todos os embaraços.

Escolhido pelo povo, então, o sítio para a construção da Ermida, começaram os trabalhos no meio do entusiasmo e fé que tudo vinha despertando, e as primeiras pedras foram lançadas ao alicerce, e pelo dia fora prosseguiu o trabalho no meio da animação impulsionada cristãmente; veio a noite, no entanto, e, quando já todos os operários se haviam ido, forças sobrenaturais arrancaram aqueles alicerces levando-os para junto da gruta, como que a indicar, assim majestosamente, que era ali que a Virgem queria a sua Casa; e assim se fez, conta o povo, como era vontade da Senhora.” (Doutor Urbano de Mendonça Dias)

Lenda ou realidade, Nossa Senhora da Paz tem especial importância no coração de todos os Vila-franquenses, e o seu culto não tem parado de crescer. A Festa em honra de Nossa Senhora da Paz realiza-se em novembro com momentos que incluem Eucaristias, Vigília de Oração e Recitação do Rosário pela Paz.

A Festa de Nossa Senhora da Conceição teve a sua origem num voto formulado pelo benfeitor Manuel Moniz Furtado, falecido a 7 de fevereiro de 1889 e que concorria com as despesas inerentes à solenidade.

Após a sua morte o povo continuou a celebrar com a maior solenidade a Festa da Imaculada e Arsénio Moniz e António Resendes foram os seus grandes patrocinadores.

O dia 23 de maio de 1894 foi um dia histórico para esta freguesia, porque chegou a Ponta Delgada, no navio “Peninsular”, a atual imagem de Nossa Senhora da Conceição oferecida por António Resendes.

Em 9 de novembro de 1903, o Bispo de Angra D. José Manuel de Carvalho, de visita pastoral a Vila Franca do Campo, concedeu 40 dias de indulgência a todas as pessoas que rezassem uma Salve Rainha diante da imagem de Nossa Senhora da Conceição que se venera na Igreja da Ribeira das Tainhas.

Decorridos são 123 anos que a Imagem de Nossa Senhora continua nesta Igreja e o Povo sempre tem celebrado a sua Festa com alegria.

A Festa de Nossa Senhora da Conceição é realizada a 8 de dezembro na Ribeira das Tainhas, sendo uma das mais tradicionais do concelho. Para além de Eucaristias e Procissão, durante todos os dias da Festa há música, bazar e barraca a favor das festas. Esta é uma das poucas festas que se realizam, de inverno, em todas as ilhas dos Acores.

“No século XV um piedoso arcebispo de Colónia inaugurou na sua Igreja, por decreto sinodal, a festa da Compaixão ou de Nossa Senhora da Piedade, festa que se estendeu sucessivamente pelas províncias católicas, até que o Papa Bento XIII, por um decreto de 22 d’Agosto de 1727, a inscreveu solenemente no ciclo do ano litúrgico, na sexta-feira da semana da Paixão.” (Jornal a Crença, 16 de agosto de 1934)

Em agosto, a devoção a Nossa Senhora da Piedade mobiliza a freguesia e traz a Ponta Garça muitas centenas de visitantes. As Festas culminam na Apoteose de Nossa Senhora, momento importante no calendário religiosa de Ponta Garça.

Os Impérios do Divino Espírito Santo são um dos traços mais marcantes da identidade do povo açoriano, constituindo um culto que marca o quotidiano insular, como também determina traços identitários que acompanham os açorianos para os lugares onde a emigração os levou. Para além dos Açores, o culto do Divino Espírito Santo está hoje bem presente na América do Norte e no Brasil.

Apesar da colonização dos Açores só se ter iniciado a partir de 1432, quase 200 anos após o apogeu do joaquinismo, e do núcleo central da doutrina de Joaquim de Fiore já ter sido condenado em 1256 pelo papa Alexandre IV, há no arquipélago um claro reacender daquelas doutrinas, inspirando manifestações religiosas e ações rituais e simbólicas que perduram até aos nossos dias.

Seguramente por influência dos franciscanos espiritualistas, que foram os primeiros religiosos a instalar-se nas ilhas, partilhando com os primeiros povoadores as agruras da colonização, o culto do Divino Espírito Santo, então em apagamento na Europa devido à crescente pressão da ortodoxia religiosa, foi trazido para as ilhas. Aqui, em comunidades isoladas e sujeitas às pressões e incertezas da vida na margem do mundo conhecido, as crenças e ritos do Divino Espírito Santo ganharam raízes e recuperaram o seu vigor, reganhando um claro cunho joaquimita que ainda hoje está bem patente.

Os Açores, e as comunidades de origem açoriana, constituem assim os últimos redutos onde as doutrinas de Joaquim de Fiore sobrevivem, e mantêm todo o seu vigor.

Sobre as origens do culto e dos rituais utilizados, pouco se sabe. A corrente dominante filia o culto açoriano ao Divino Espírito Santo nas celebrações introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isabel, que por sua vez as teria trazido do seu Aragão natal. De facto, existem notícias seguras da existência do culto nos séculos XIV e XV em Portugal.

A existência de Irmandades do Divino Espírito Santo é já generalizada no século XVI. O primeiro hospital criado nos Açores (1498), a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Angra, recebe a designação, ainda hoje mantida, de Hospital do Santo Espírito. A distribuição de carne e os bodos eram também já comuns em meados do século XVI.

Para se compreender a proximidade do atual culto açoriano ao Espírito Santo às doutrinas de Joaquim de Fiore é necessário analisar-se sua forma de organização, crenças e rituais.

A organização do culto, embora com pequenas variações entre ilhas, e particularmente entre estas e as comunidades de origem açoriana nas Américas, assenta nas seguintes estruturas:

Irmandade — A irmandade constitui o núcleo organizacional do culto. É composta por irmãos, voluntariamente inscritos e consensualmente aceites, todos eles iguais em direitos e deveres. Embora haja notícia de antigas irmandades exclusivamente masculinas, desde há muito que homens e mulheres participam sem diferenças. O carácter igualitário das irmandades, condicente com a crença joaquimita, é bem patente, não sendo aceites diferenças por origem ou posses.

Império — Cada irmandade estrutura-se em torno de um Império do Divino Espírito Santo, normalmente um pequeno edifício com arquitetura distinta em torno do qual se realizam as atividades do culto. A arquitetura dos Impérios varia grandemente de ilha para ilha, variando desde um simples telheiro no tardoz das igrejas na ilha de Santa Maria até capelas vistosamente ornadas e encimadas pela coroa imperial na ilha Terceira. Aos impérios está normalmente associada uma dispensa ou copeira, espaço destinado ao armazenamento dos adereços utilizados, dos víveres e vitualhas e para confeção e distribuição das funções e demais refeições rituais.

Mordomo — Para cada celebração os irmãos escolhem um irmão responsável que recebe a designação de mordomo. A escolha é normalmente feita pela retirada de pelouros, bilhetes em papel onde é inscrito um nome, enrolados e colocados num saco ou chapéu, de onde são retirados por uma criança. A maioria das irmandades admite a existência de mordomos voluntário, que se oferecem a realizar a festa em resultado do cumprimento de promessa feita para recebimento de uma especial graça do Divino Espírito Santo. Ao mordomo cabe coordenar a recolha de fundos para a festa e coordenar a sua realização, sendo para tal efeito considerado a autoridade suprema a que todos os irmãos estão obrigados a estrita obediência.

No que respeita às crenças, que estão por detrás da organização acima descrita, elas entroncam diretamente no joaquimismo. São elas:

esperança — os devotos esperam a chegada de um tempo novo onde todos os homens serão irmãos e onde o Espírito Santo será a fonte de todo o saber e de toda a ordem.

no Divino e nos seus sete dons — o Divino Espírito Santo está presente em todo o lado, tudo sabe e tudo vê, não havendo para ele segredos. As ofensas ao divino são punidas severamente (Diz-se: O Divino Espírito Santo é vingativo), não ficando impunes as promessas não cumpridas. Os Sete Dons do Espírito Santo (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor) são a fonte de toda a virtude e de toda a sabedoria, devendo guiar os irmãos.

igualitarismo — todos os irmãos são iguais e todos podem ser mordomos, e todos podem ser coroados assumindo a função de imperador, merecendo igual respeito e obediência quando investidos dessa autoridade.

solidariedade e a caridade — na distribuição do bodo e das pensões, devem ser privilegiados os mais pobres para que todos possam igualmente festejar o Divino Espírito Santo. Todas as ofensas devem ser perdoadas para se ser digno de receber o Divino Espírito Santo.

autonomia face à Igreja — o culto do Divino Espírito Santo não depende da organização formal da Igreja nem necessita da participação formal do Clero. Não existem intermediários entre os devotos e o Divino.

Os rituais do culto assentam num conjunto de objetos simbólicos e em cerimónias visando a representação direta das crenças subjacentes. São eles:

coroa, o ceptro e o orbe — são os símbolos mais importantes do Império do Divino Espírito Santo, assumindo o lugar central em todo o culto. A coroa é uma coroa imperial, em prata, normalmente com três braços, encimada por um orbe em prata dourada sobre o qual assenta uma pomba de asas estiradas. O tamanho da coroa varia, e em geral cada irmandade dispõe de uma coroa grande e duas mais pequenas. Cada coroa é completada com um ceptro em prata, encimado por uma pomba de asas estiradas. A coroa é decorada com um laço de fita de seda branca, o mesmo acontecendo com o ceptro. Por vezes os braços da coroa são decorados com pequenos botões de flor de laranjeira em tecido branco. A coroa é colocada sobre uma bandeja de pé alto, também em prata. Simboliza o Império do Divino Espírito Santo e o seu poder universal. Para além de servir para coroar, é considerada uma honra, conferida pelo imperador, transportar a coroa e segurar a respetiva bandeja. Durante o ano as coroas circulam semanalmente entre as casas dos irmãos, que as colocam em lugar de honra, rezando e louvando o Divino, todas as noites, perante elas. As coroas são também transportadas pelos mordomos quando realizam peditórios.

A bandeira — a bandeira é confecionada em damasco vermelho vivo, normalmente de dupla face, de forma quadrangular, com 5 palmos de lado (embora existam bandeiras maiores e menores), sobre o centro da qual é bordada em relevo uma pomba branca da qual irradiam para baixo raios de luz em branco e fio de prata. Uma bandeira menor é içada junto à casa do imperador durante a permanência das coroas. Junto aos impérios é hábito existir um grande mastro no qual é içada durante as cerimónias uma grande bandeira de tecido branco onde estão pintadas cenas alusivas ao culto. É considerada uma honra ser escolhido para levar a bandeira nos cortejos.

Hino — o Hino do Espírito Santo, composto em finais do século XIX para ser tocado pelas bandas e ser cantado durante as coroações, é o mais reverenciado de todos os hinos, sendo sempre escutado nos Açores com grande emoção e respeito. Alguns dos acordes estão patentes no Hino dos Açores.

As varas e as fitas — claramente inspiradas nas antigas varas municipais e dos juízes, as cerimónias e cortejos são acompanhadas por um número variável de varas em madeira polida (em geral 12), com cerca de 1,5 m de comprido, encimadas por um suporte no qual é possível colocar uma vela. Algumas varas são decoradas com fitas brancas e vermelhas. Noutros casos são colocadas sete fitas, todas de cor diferente, representando os sete dons do Espírito Santo. O imperador escolhe para levar as varas pessoas, normalmente jovens, que deseje honrar.

cortejoimpério ou mudança — no dia de Páscoa as coroas são transportadas para a igreja, fazendo-se no final da missa a primeira coroação. Depois de coroado, o Imperador parte para sua casa, acompanhado por um cortejo, acompanhado pelos irmãos. Atrás vai normalmente uma filarmónica que acompanha com música alegre o percurso. Chegados a casa do imperador, as coroas são colocadas num trono armado em madeira revestido de papel branco e flores, ficando em exposição toda a semana. Todas as noites, os vizinhos e convidados reúnem-se para um pequeno convívio, por vezes incluindo danças, que termina pela recitação do terço e de orações alusivas ao Divino Espírito Santo.

coroação – a coração é feita após o término da missa e consiste na colocação da coroa, pelo sacerdote, na cabeça do Imperador ou das pessoas que ele designar, e na imposição do ceptro, que depois de beijada a pomba que o encima, é empunhado pelos coroados. Os fiéis assistem de pé à coroação, sendo por vezes cantado o Hino. Depois da coroação, inicia-se o cortejo, sendo o imperador seguido até à porta pelo sacerdote, que canta o Magnificat.

bodo — No 7.º domingo após a Páscoa (dia de Pentecostes) realiza-se o bodo. Nesse dia, o cortejo depois de sair da igreja dirige-se ao império, sendo as coroas e bandeiras aí colocadas em exposição. Frente ao império, em longos bancos corridos são colocadas as esmolas, que depois de abençoadas são distribuídas. Os irmãos recebem-nas e todas as pessoas que passam podem livremente servir-se de pão e vinho. Entretanto são arrematadas as oferendas, normalmente gado, alfenim e massa sovada. O bodo é organizado e gerido pelo mordomo e por quem ele designe. Terminado o bodo as coroas recolhem em cortejo a casa do mordomo. A segunda-feira imediata é o Dia dos Açores, ou dia da pombinha.

esmola ou pensão — é constituída por uma porção de carne de vaca (de gado especialmente abatido para o efeito), por um pão de cabeça (ou pão do bodo), e por vinho de cheiro. É distribuída aos irmãos que as pretenderem e às famílias mais necessitadas.

função — é uma refeição ritual servida a um numeroso grupo de convidados por um dos irmãos, normalmente em resultado de um voto ou promessa. A refeição consiste de “sopa do Espírito Santo” (pão seco que depois é recoberto com água de cozer carne, temperada com hortelã e outros condimentos), o cozido de carne, pão de água, a massa sovada (um pão de massa doce e rico em ovos) e arroz doce polvilhado com canela.

briança — é um cortejo em que o gado que vai ser abatido para o bodo ou arrematado é mostrado à comunidade, com flores de papel colorido coladas na pelagem e acompanhado por foliões ou cantadores de cantigas ao desafia. O cortejo para à porta de cada família que contribuiu, sendo então cantadas cantigas alusivas. Durante o percurso é tocada a briança (música tradicional para este evento) ou um pezinho adequado.

Ceia dos criadores — são jantares organizados em honra dos lavradores que contribuíram com gado ou das pessoas que deram ofertas relevantes à irmandade. Funciona como momento de recolha de fundos, sendo tradição em algumas ilhas convidar figuras ilustres da política ou da vida social local.

Os foliões — são pequenos grupos de até 5 pessoas, os Foliões do Divino, que, com as suas cantigas, acompanhadas por tamborete e címbalos, participam da preparação das Festas do Divino, visitando as casas dos irmãos, cantando os feitos e os poderes do Divino Espírito Santo, recolhendo donativos e marcando os rituais da distribuição do bodo ou da função.

Em Vila Franca do Campo existem 19 Irmandades do Divino Espírito Santo:

  • Irmandade do Divino Espírito Santo dos Inocentes (Água d’Alto)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo de Pentecostes (Água d’Alto)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo de São João (Água d’Alto)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Trindade (Água d’Alto)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Mãe de Deus (São Miguel)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Praça (São Miguel)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo das Hortas (São Miguel)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Rua de Trás (São Miguel)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo de Santo André (São Miguel)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo de São Pedro Gonçalves (São Miguel)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Ribeira Seca (Ribeira Seca)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Rua Nova (Ribeira Seca)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo dos Inocentes (Ribeira das Tainhas)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Praça (Caminho Novo – Ponta Garça)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo de São João (Cancela do Ferreiro – Ponta Garça)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo dos Aflitos (Ponta Garça)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo dos Aflitos (São Pedro)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Trindade (Meio Moio – Ponta Garça)
  • Irmandade do Divino Espírito Santo dos Inocentes (Rua Prof. Eduíno Terras Vargas – Ribeira das Tainhas)

 

Para um maior conhecimento sobre a origem das Irmandades do Divino Espírito Santo, consulte:

  • FALBEL, Nachman. “São Bento e a ‘ordo monachorum’ de Joaquim de Fiore (1136-1202)”. Revista USP, São Paulo, (30), pp. 273–276, Junho/Agosto de 1996.
  • MOURÃO, José Augusto; FRANCO, José Eduardo. A Influência de Joaquim de Flora em Portugal e na Europa. Escritos de Natália Correia sobre a utopia da Idade Feminina do Espírito Santo. Lisboa: Roma Editora, 2005.
  • RAMALHO, Paulo. As Festas do Espírito Santo na Ilha de Santa Maria. Vila do Porto: Câmara Municipal de Vila do Porto, 2011. 76p. fotos p/b cor
  • ROSSATTO, Noeli Dutra. Joaquim de Fiore: Trindade e Nova Era. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.
  • ROSSATTO, Noeli Dutra; LUPI, Carlos Eduardo Bastos. O simbolismo das Festas do Divino. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2003.